“O que foi é o que será. O que aconteceu é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol.” (Ecl 1, 9)
Causou estranhamento a afirmação de certo sacerdote, durante uma homília, de que a Igreja não santifica ninguém, pois, afinal, faz parte do senso comum a crença de que alguém só se torna santo se a Igreja oficialmente assim o reconhecer. Um conceito equivocado, no entanto, segundo a clara explicação do padre, que levou os fiéis a compreenderem que, de fato, a Igreja não santifica ninguém. O que ela faz, depois da morte da pessoa, é cumprir um procedimento de averiguação (processo canônico) para constatar “se a pessoa em questão praticou em grau heroico as virtudes cristãs, tanto as teologais (fé, esperança e caridade) quanto as morais (prudência, justiça, fortaleza e temperança). Sem virtudes heroicas comprovadas não há canonização possível”1.
O que isso quer dizer? Quer dizer que a Igreja, em sua infalível sabedoria, não transforma ninguém em santo. A santidade é uma construção de toda a vida, tijolinho por tijolinho, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto. A Igreja apenas fará, posteriormente, o reconhecimento disso, através de uma análise longa e minuciosa, com provas e testemunhos absolutamente claros e inequívocos.
A coletânea de artigos denominada “Santos Perseguidos”, que agora começa a ser publicada neste site, apresentará fatos pitorescos e interessantes sobre a vida de diversos santos. Alguns deles conhecidos e venerados em diversas partes do mundo; outros, desconhecidos, mas, cujas trajetórias fizeram diferença na História da humanidade. Conhecer a vida desses bem-aventurados nos faz refletir e traz refrigério às nossas almas, pois, se há uma generalidade de homens corruptos, pecadores contumazes, votados à prática do mal no qual se comprazem e ao qual arrastam com seus maus exemplos e licenciosidade, uns poucos há que viveram – e ainda vivem – de tal forma a fé, a esperança, a caridade e todas as demais virtudes necessárias à santidade, que garantem a harmonia ainda existente no mundo.
Comparemos a vida a uma grande balança, tendo de um lado uma multidão de pecadores. Do outro, uma única alma, aguerrida e inteiramente dedicada a Nosso Senhor Jesus Cristo. Seguramente, essa alma solitária terá peso suficiente para garantir o equilíbrio entre os dois pratos, pois o próprio Cristo representa o fiel da balança. “Sobreveio a Lei para que abundasse o pecado. Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20).
Dessa forma, devemos compreender que a Igreja reconhece a santidade, mas não santifica ninguém. A santificação, à qual todos estamos convidados, é obra de cada um.
Mas, afinal, o que é ser santo? Será que santos são os que rezam muito? Sem dúvida os santos rezam muito, mas nem todos que rezam muito são santos, pois, como disse o Divino Mestre: “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus” (Mt 7, 21).
Há muitos anos, em uma pregação, Monsenhor João Clá afirmou: “Todos vocês são convidados a serem santos, mas, santos de altar, santaços!” Suas palavras cativavam e, ao mesmo tempo, impactavam. Por que ele fazia convite tão ousado? Já é dificílimo viver com alguma dignidade, ser um cidadão de bem neste nosso mundo tão complexo; como é que um padre vem pedir para as pessoas serem santas? Quem pode ser santo nestes dias terríveis em que vivemos?
Sendo um discípulo fervoroso de Nosso Senhor Jesus Cristo e um valoroso guerreiro da Virgem Santíssima, Mons. João não fazia outra coisa senão repetir aquelas exigentes palavras do Divino Mestre, ditas há mais de dois mil anos: “Sede perfeitos como vosso Pai Celeste é perfeito” (Mt 5, 48). Meditando sobre isso, podemos concluir que as condições e as circunstâncias necessárias à santidade são as mesmas do passado, afinal, conforme as palavras de São Paulo, em sua epístola aos Hebreus, “Jesus Cristo é sempre o mesmo: ontem, hoje e por toda a eternidade.” (Hb 13, 8) Os pecados também não mudaram e nem tampouco mudou a essência do homem. Por mais que nos consideremos modernos e evoluídos, como está dito em Eclesiastes (1,9), “não há nada
de novo debaixo do sol”, e o chamado à santidade que começou com Adão será o mesmo até o último homem que existir sobre a Terra. A Igreja é o terreno propício para o florescimento de nossa santidade, para que possamos, com nossa entrega, obediência e fé, santificar também a Ela, cuja saúde e sobrevivência dependem de cada um de nós, células genuínas do Corpo Místico de Nosso Senhor.
Assim, convidamos os leitores a acompanharem a nossa seção “Santos Perseguidos”. O primeiro deles será Santa Teresa de Jesus, cuja história, permeada de sofrimentos, perseguições, difamações e injustiças, é simplesmente emocionante.
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1 ROYO MARÍN, Antonio, in: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. Dona Lucilia. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2013,
p. 22.