Hagiografia

Jesus, ou Barrabás?4 minutos para ler


“Muitos seguem a Jesus até ao partir do pão, poucos até beber o cálice da paixão. Muitos veneram Seus milagres, mas poucos abraçam a ignomínia da cruz”[1]

Desde tempos imemoriais, as pessoas buscam por milagres, recorrem a profetas, clamam pelo maná, esperam o auxílio de Deus. Não foi diferente na época de Cristo. Ao ouvirem falar dos milagres que Ele realizava, das consolações que Ele levava e da salvação que anunciava, multidões passaram a segui-Lo. As pessoas se encantavam com a santidade que transbordava dos Seus gestos, da Sua voz, do Seu poder. Esperavam por um libertador e, cada vez mais, convenciam-se de que Ele era o Messias tão aguardado.

Jesus convidou alguns homens a caminharem com Ele: os primeiros discípulos. Estes não perguntaram quem Ele era, de onde Ele vinha ou para onde Ele ia. Deixaram as suas redes na praia, sua má vida, seus afazeres e, simplesmente, O seguiram. Outros, ainda duvidosos e titubeantes, perguntavam-Lhe o que era preciso para segui-Lo e Ele nunca enganou a ninguém, sempre disse claramente quais eram as condições necessárias para isso: “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). “Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,26).

Essas exigências fizeram com que muitos desistissem de segui-Lo, e aqui falamos de pessoas bem-intencionadas, mas que não foram capazes de suportar o peso da renúncia para seguir a Deus, abrindo mão também da eterna fonte de graças advindas dessa entrega. Ainda hoje, muitos aceitam o chamado de bom grado, mas, quando a corda aperta, não têm força de caráter suficiente para resistir e abandonam o barco. Porém, há uma espécie de pessoas, iguais àquelas que clamaram pelo maná no deserto, que se deixam agitar pelas ondas do momento. Não O seguem para dar-se a Ele, mas por aquilo que d’Ele podem receber.

Infelizmente, foram esses mesmos infelizes que, após a prisão de Jesus, se puseram a testemunhar contra Ele. Presenciaram milagres, alimentaram-se com o pão que saciara a fome de milhares, se emocionaram ouvindo as Suas palavras. Muitos receberam curas miraculosas, mas, bastou que Jesus fosse covardemente traído, caluniado, aprisionado, açoitado e injustamente acusado para que começassem a pôr em dúvida a Sua santidade. Pessoas que tinham os pés tão fincados na terra que esperavam e só se contentariam com um Messias que lhes desse a libertação temporal, livrando-os do domínio político do opressor. Estavam diante d’Aquele que as podia libertar do maligno, do pecado, da ignorância, franqueando-lhes a entrada no Céu, mas não conseguiram enxergar.

Diante de Pilatos, quando ele procurou o apoio dessa multidão, a fim de evitar cometer a injustiça suscitada pelos líderes religiosos, e pediu que escolhessem a Jesus ou a Barrabás – um prisioneiro agitador e assassino –, não titubearam e, incitadas pelos chefes da sinagoga, gritaram em coro: “Barrabás, queremos que soltem Barrabás!(cf. Lc 23,20). Esses gritos devem ter doído em Nosso Senhor mais que as chicotadas que recebera dos algozes…

Também hoje, muitos bebem da fonte da Água Viva, chegam muito perto da Luz, ajoelham-se e rezam em templos onde Jesus jamais será desrespeitado, confessam seus pecados a sacerdotes sérios e comprometidos, que amorosamente os aconselham a arrepender-se e mudar o rumo de suas vidas. No entanto, tíbios e indecisos, como aquela multidão de seguidores de outrora, que não sabiam que rumo tomar, se assemelham a folhas secas levadas pelo vento, deixam-se seduzir por palavras vãs e põem em dúvida tudo o que viveram e experienciaram no mais profundo de suas almas.

Num mundo tão permissivo, cheio de fúteis e funestas atrações, não é fácil tomar a Cruz e seguir a Jesus, é mais fácil perseguir e caluniar àqueles que O seguem e continuam levando a Boa Nova em Seu nome e dizer, como Nietzsche: Deus está morto!”[2]. Não é fácil imitar a Cristo.  “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois suas obras eram más” (Jo 3,19). Os santos mártires do início do Cristianismo e todos os santos que viveram depois deles, mesmo perseguidos, nunca se envergonharam de Jesus, não deixaram de segui-Lo e de proclamar o Seu Evangelho, dando a vida por Ele. E você, a quem escolhe: Jesus ou Barrabás?


[1] TOMÁS DE KEMPIS. Imitação de Cristo – Livro Segundo. São Paulo: Paulus, 1976, p. 146-147.

[2] NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência – Livro III.  São Paulo: Escala, 2008, p. 129.


(*) Izilda Alves de Oliveira é formada em Letras pela USP, graduanda em Psicologia pela Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro e pós-graduanda em Docência do Ensino Superior pelo SENAC/SP.

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3 comentários

  1. Geraldo Fidélis disse:

    Podiam trocar este título. Colocar “Igreja ou sinagoga?”, ou melhor, coloca assim: “Arautos ou índios da Amazonia?”

  2. Kaique de Oliveira disse:

    Texto muito elucidativo dos tempos hodiernos. Um exemplo que serve para todos. Desde clérigos, religiosos e religiosas consagradas até pais e mães de família. Todos temos bem diante dos olhos a Jesus, mas segui-lo é custoso e poderá ser até vergonhoso… Que a Santíssima Virgem nos ajude a defender nossa fé nos momentos de grandes embates.
    Vale a pena utilizar o sistema de ads para emcaminhar para a página de destaque. Assim quem lê um artigo sempre quererá ler outro. U sistema muito usado pela imprensas digitais.

  3. Que o Menino Jesus desperte em nós a vontade de tomarmos nossa cruz e segui lo, e com sabedoria saibamos reconhecermos os verdadeiros pastores que estão nos guiando.
    Que sigamos a verdadeira luz de Cristo anunciado a boa nova em Seu Nome.

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