O Departamento de Imprensa dos Arautos do Evangelho publicou no dia 28 de agosto de 2019, um extenso relatório com o título “Perseguição à Igreja Católica no Brasil?”, no qual desmonta as falaciosas afirmações contidas numa reportagem intitulada “Os segredos dos Arautos: o que escondem as muralhas de castelos habitados por grupo católico ultraconservador”, publicada no dia 23 de Agosto de 2019 pelo portal noticioso Metrópoles.
Veja o plano geral da resposta aqui.
III. Observações gerais
Para descortinar o que está por detrás da reportagem, convém fazer algumas breves observações gerais sobre o artigo.
1. Nas muitas palavras não falta ofensa
Antes de tudo, a extensão do libelo de acusações é sem dúvida desproporcional. Conta com mais de 6.500 palavras, o que corresponde a mais de treze páginas de uma revista convencional (com ilustrações). Pois bem, nasce logo uma interrogação: para que tanta carga de ódio? Será que é para mascarar a má-fé? Há muito tempo já dizia Eurípedes: “A verdade fala uma linguagem sem desvios”. Ou seja, quando se multiplicam as palavras de modo inútil, desconfia-se da veracidade e da honestidade do assunto. Nesse sentido, esta resposta procurou poupar o leitor de explicações desnecessárias. Afinal, o que é evidente não necessita de demonstração. De resto, é inútil discutir com quem nega os princípios mais fundamentais da lógica.
A linguagem da reportagem é, como já foi dito, extremamente repetitiva e cheia de chavões e slogans, com o indiscutível intuito de criar sensacionalismo. Com toda a razão alertava o sábio: “Nas muitas palavras não falta ofensa; quem retém os lábios é prudente” (Pr 10,19).
2. Faltou também memória…
Qualquer um que tenha paciência de ler a reportagem, nota que ela se contradiz por diversas vezes. Eis alguns exemplos:
a) Inicialmente ela afirma que os Arautos “moram em palácios” e em “instalações suntuosas”, mas depois descreve a sede de Brasília como uma “construção convencional”.
b) Narra a suposta proibição do uso de celulares entre os estudantes, mas ao mesmo tempo insere um relato segundo o qual uma Irmã teria mandado uma mensagem para outra por meio do celular.
c) Denuncia irreparáveis danos causados pela “lavagem cerebral” ao colocar os filhos contra os pais, mas ao mesmo tempo anexa uma carta da Irmã Lívia destinada à mãe, manifestando os maiores afetos em relação a ela.
d) Se haveria um culto de “adoração” a Mons. João Clá por parte de seus seguidores, como poderiam se referir a ele com uma sigla tão banal quanto “JCD”, como falsamente aponta a reportagem?
e) Define os Arautos como uma “associação privada de padres (sic)”, enquanto é sabido que possui membros de ambos os sexos. Aliás, a reportagem contém também relatos de (supostas) “ex-arautas” (como se a palavra “arauto”, em português, tivesse feminino…).
f) Há ainda várias inverdades ao longo do artigo, já enunciadas no corpo desta resposta ou simplesmente omitidas. O ridículo não merece ser respondido para poupar ao leitor seu precioso tempo.
Em resumo, escreve-se algo numa parte do artigo e logo depois encontra-se uma evidente autocontradição. Aqui vale recordar o imperecível axioma de Quintiniano: “O mentiroso precisa ter boa memória”. Pois bem, os autores foram traídos por suas próprias palavras… ou em bom português: “Mentira tem perna curta”… embora seja uma reportagem tão longa…
3. O mais importante “segredo” finalmente revelado
Como foi dito, a reportagem se baseia em relatos de ex-membros ou familiares quase sempre anônimos. Ora, por que os repórteres não procuraram as milhares de pessoas satisfeitas com a atuação dos Arautos no Brasil e no mundo? Inúmeros membros e ex-membros, seus pais e mães, de todo o orbe, estão agradecidos com a formação oferecida pela instituição. Trata-se de um princípio básico já resumido pelo Direito Romano: “Seja ouvida a outra parte”. A Constituição Federal consolidou esse aforismo pelo famoso princípio do contraditório (art. 5, LV). Contudo, custe o que custar, a reportagem quer induzir o leitor a concluir que os Arautos são uma “seita destrutiva”.
Além disso, a matéria simplesmente desconsiderou a consolidada reputação que a Associação tem junto à sociedade civil e eclesiástica, seguindo com toda a diligência as leis de Deus e dos homens. Isso é atestado por incontáveis cartas de apoio de autoridades religiosas e civis. Por que simplesmente ignorar tantas provas contrárias? De forma alguma há segredos nesse sentido, pois essas testemunhas conhecem muito bem a conduta irrepreensível dos Arautos: são aquilo que são, nada além disso.
Também é incompreensível tanta parcialidade, que fere os princípios mais básicos do jornalismo. Sente-se, na realidade, aquele ódio anticristão que denunciou Tertuliano nos primórdios da Igreja: “Christianos ad leones” (Apologeticum, 40, 2), ou seja, “Joguem os cristãos aos leões”, assim supostamente se resolveriam todos os problemas! Cui prodest? – A quem interessam os crimes? Saberemos um dia nos tribunais humanos e divinos.
Por outro lado, os autores da reportagem aliaram-se a um grupo ostensivamente contrário aos Arautos, cujo mau-caratismo é escancarado todos os dias nas redes sociais, e pelos próprios testemunhos revelados pela reportagem. Trechos da reportagem podem ser facilmente encontrados em posts de blogs ditos “sujos”. Por fim, como confiar, por exemplo, na “boa-fé” de uma mãe que ousa dizer: “Minha meta hoje é ajudar quantos jovens eu puder a saírem de lá”…?
Seja como for, após observar a multiplicação de falsidades de diversos relatos anônimos referidos a cristãos, denunciou Plinio o Jovem: “Quanto aos libelos anônimos, não devem merecer atenção em nenhuma causa criminal, pois são um péssimo exemplo que não condiz com nosso tempo”. Se o anonimato já não servia nos juízos antigos há quase vinte séculos, como servirão hoje como testemunho? Como um portal tão “moderno” poderia simplesmente se olvidar dessa obviedade?
De todos os modos, no passado não muito distante, quase todos os jornalistas se omitiam em dar opiniões nos assuntos que desconheciam. Hoje em dia, para alguns, basta escutar um canto de sereia para já emitir juízos precipitados. Pena que se esquecem com tanta facilidade dos princípios básicos do jornalismo, aprendidos logo no primeiro ano da faculdade: objetividade, neutralidade e imparcialidade. Em última análise, a reportagem, tão obcecada em revelar os supostos “segredos” dos Arautos – muitos deles praticados à luz do dia há séculos pela Igreja –, acaba por revelar o seu próprio segredo: uma implacável perseguição religiosa.