Refutações

Resposta a Metrópoles – 3 de 11: “lavagem cerebral” ou conversão?7 minutos para ler

O Departamento de Imprensa dos Arautos do Evangelho publicou no dia 28 de agosto de 2019, um extenso relatório com o título “Perseguição à Igreja Católica no Brasil?”, no qual desmonta as falaciosas afirmações contidas numa reportagem intitulada “Os segredos dos Arautos: o que escondem as muralhas de castelos habitados por grupo católico ultraconservador”, publicada no dia 23 de Agosto de 2019 pelo portal noticioso Metrópoles.

Veja o plano geral da resposta aqui.


2. “Lavagem cerebral” ou conversão?

Recordemos que a própria reportagem descreve na Introdução que: “os Arautos do Evangelho constituem desde 2001 uma associação privada de padres (na realidade: de fiéis) de direito pontifício, ou seja, fiéis que ostentam um estatuto aprovado pelo Vaticano, reconhecidos, portanto, pela Igreja Católica”. Mais adiante, porém, no (longo) segundo capítulo, os autores censuram os Arautos por serem uma “seita”. Amnésia ou má-fé? Vejamos.

Sendo uma Associação Privada de Fiéis de Direito Pontifício, como podem os Arautos ser acusados de “seita”? Um completo nonsense.

Uma pessoa sensata logo percebe o animus diffamandi dos relatos sobre esta suposta “seita”. De qualquer modo, tratar-se-ia de uma “seita” muito peculiar, pois a reportagem está recheada de fotos de uma romaria multitudinária recente a Aparecida! Será que o site Metrópoles reputa que os milhões de brasileiros que lá se congregam pertencem também a uma “seita”? Será mais um descaso contra uma imemorial e legítima fé popular? Não custa recordar que “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa” é crime pela legislação federal (Código Penal, art. 208). Voltaremos ao assunto das seitas. Por enquanto, será abordado o tema da “lavagem cerebral”.

a) Um mito midiático antirreligioso

Nessa altura, a reportagem apela para o sentimentalismo de narrações claramente construídas, salpicadas de sensacionalismo midiático. Como sempre, quando falta a razão, só resta a emoção. As expressões aqui passam a ser “lavagem cerebral”, “filme de terror”, “robôs” e “reprogramação” mental para se referir a uma espécie de distanciamento dos membros em relação ao mundo, em clima de beligerância contra ele.

A obsoleta acusação de “lavagem cerebral”, já bastante desgastada, foi e continua sendo amplamente refutada por destacadas obras científicas. Como se sabe, a expressão brainwashing teve origem nos Estados Unidos, na década de 1950. Alguns jornalistas da época, ignaros da psicologia humana, empregavam o termo para denotar como alguns prisioneiros de guerra americanos sofreriam “lavagem cerebral” mediante tortura, por parte de comunistas chineses. Partiam da falsa premissa de que a mentalidade humana, numa visão extremamente materialista, agiria como uma roupa colocada numa máquina de lavar, cujo processo final conduziria a uma completa limpeza da forma anterior. Em seguida, a utilização da expressão foi largamente manipulada por organizações “anticulto” como massa de manobra para promover a perseguição religiosa. Mais tarde, foi ainda misturada com histórias romanceadas por filmes hollywoodianos e pela mídia sensacionalista (em particular, a yellow press norte-americana).

O conceito, porém, não tem nenhum rigor científico, antes, pelo contrário, está recheado de incoerências. Trata-se uma teoria pseudocientífica, manifestamente ideológica, antirreligiosa, sendo rechaçada por especialistas da American Psychological Association (APA), entre outras associações correlatas. Inúmeros autores provaram que a entrada em qualquer movimento religioso ocorre apenas por fatores socioculturais e psicológicos naturais. Não existe na mente humana, portanto, uma espécie de “caixa preta”, que substituiria a liberdade por intermédio de manipulações, como num passe de mágica.

Por fim, reitere-se que tal tese continua a ser desmentida por inúmeros artigos acadêmicos e estudiosos sérios dos mais diversos campos do saber (Sobre isso, cf. o recente verbete com farta bibliografia oposta à tese da lavagem cerebral: Richardson, J. F. Brainwashing and Mental Health. In: Friedman, Howard S. (ed.) Encyclopedia of Mental Health. 2ª. ed. Amsterdam et al.; Elsevier; Academic Press, 2016, p. 210-215). Assim, antes de denunciar os Arautos de “lavagem cerebral”, os querelantes poderiam ser ao menos um pouco diligentes em buscar o status quaestionis da expressão e a sua aplicação na atualidade.

Todavia, neste caso, bastaria aplicar o bom senso: se a “lavagem cerebral” fosse tão eficaz, as maiores denominações religiosas estariam baseadas nela… o que é manifestamente falso. Será que, por detrás da reportagem, encontram-se razões ideológicas de cunho antirreligioso, insufladas por grupos ocultos, confortáveis sob os véus do anonimato? Ora, nesse diapasão, uma pergunta logo emerge: renasce em pleno século XXI uma perseguição religiosa no Brasil, a Terra de Santa Cruz? Voltaremos a esse assunto.

b) Direitos humanos para todos

Outro argumento recorrente no texto é que ninguém se tornaria religioso(a) na adolescência. De fato, conforme já apontava São Tomás de Aquino, somente com a maioridade se ratifica qualquer indício anterior de vocação profissional ou semelhante. Mas a consciência a respeito da forma de vida definitiva se alcança com o pleno uso da razão, ou seja, quando o sujeito tem completa responsabilidade por seus atos (capax doli), o que se dá em geral bem antes da maioridade.

Por isso, nada impede que menores já se dediquem a diferentes ofícios, quaisquer que sejam. Como ensinou o mestre Cassiodoro (Variae, 1, 24): “O que não se aprende na juventude será ignorado na maturidade”. A educação e sua consequente aplicação para determinada profissão não nasce apenas, portanto, quando se completam 18 anos. Por exemplo, quem tem dotes musicais, tanto melhor que aprenda e desenvolva o quanto antes tais apetências; quem tem habilidades esportivas, tanto melhor que as exercite desde jovem; quem tem vocação religiosa, “tanto mais deve-se habituar desde a infância” com ela (São Tomás de Aquino, Contra retrahentes, cap. 3). É claro que cada um vai deliberar acerca das importantes decisões de sua vida quando alcançar a maioridade. Por isso, esta é requerida para emitir os votos religiosos, para o matrimônio ou para a vida consagrada. No entanto, nenhuma lei impede que menores namorem honestamente ou que ingressem como noviços em ordens religiosas. Afinal, o direito à liberdade se aplica também às crianças e adolescentes, inclusive no tocante à “crença ou culto religioso” (ECA, art. 16, III). Os direitos humanos nascem com o homem, não quando um grupo de indivíduos quiser decidir: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos” (Declaração Universal dos Direitos Humanos, art. 1). De resto, nem o Homem-Deus desprezou os legítimos anseios das crianças: “Deixai vir a Mim os pequeninos e não os impeçais, pois deles é o Reino dos Céus” (Mt 19,14).

De qualquer maneira, todas as atividades realizadas por menores na instituição são desejadas e autorizadas expressamente pelos pais ou representantes legais. Tal autorização pode ser revogada em qualquer momento por eles, o que é acatado escrupulosamente pelos Arautos.

c) Ninguém é obrigado a ser religioso, mas todos são obrigados a respeitar a fé alheia

Vale ainda recordar o antigo ditado de Hesíodo: “O pensamento mau está na cabeça daquele que o pensa”. O que chamam de “lavagem cerebral” é para a tradição cristã – e para os dicionários – o que sempre se chamou de “conversão”. Afinal, a radical mudança de vida de São Paulo, de Santo Agostinho, de Santa Benedita da Cruz (Edith Stein) e de tantos outros, não ocorreu por uma “lavagem cerebral”…, mas sim pela ação da graça de Deus na alma. E esta age mesmo que os inimigos da Igreja se oponham. Será que São João Batista também pregava a “lavagem cerebral” ao clamar: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1, 15)? Para uma mentalidade antirreligiosa, a resposta só pode ser afirmativa; mas não para quem tem fé. A única lavagem desejada pelos cristãos é aquela proclamada pelo santo rei Davi no Salmo 50,4: “Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado”.

É óbvio que ninguém é obrigado a seguir crenças religiosas, mas pede-se ao menos que elas sejam respeitadas por todos, como prevê, aliás, a nossa Carta Magna.

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1 comentário

  1. Luiz PG disse:

    As mentiras e loucuras da seita anti arautos não param de crescer. Porém, a criatividade para falar a mesma coisa de maneira diferente, ora acaba. Ainda mais que temos agora esse site que está mostrando artigos que refutam com clareza os erros da seita anti arautos. #amoosarautos

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