Ensina-nos a Teologia que um simples sorriso de Nosso Senhor Jesus Cristo teria bastado para operar a Redenção do gênero humano. Contudo, sabemos que não foi isso o que se deu; o Redentor quis oferecer todo o seu Preciosíssimo Sangue, tendo em vista, dentre outras razões, ser exemplo para os homens. Na realidade, todos os atos de sua vida terrena poderiam ser compreendidos sob este aspecto: ser exemplo. Deu-nos o exemplo de humildade, nascendo numa gruta; deu-nos o exemplo de vida interior, nos trinta anos de sua vida oculta em Nazaré; deu-nos exemplo de misericórdia para com os arrependidos e de intransigência contra os que propagam o mal; e tantos outros exemplos…
“Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder; Ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com Ele” (At 10, 38). Quis o Divino Mestre dar-nos também este exemplo: afastar os demônios da face da Terra, ação esta que não se restringiu aos dias em que esteve entre os homens, mas que Ele mesmo quis perpetuar, através de seus discípulos, ao longo da história da Igreja: “Expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça deveis dar!” (Mt 10, 8). E assim se fez ao longo dos séculos: a Santa Igreja, o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, ungido com o Espírito Santo e com o poder, curou os oprimidos pelo demônio, porque Deus está com Ela.
Na Apresentação do Ritual de exorcismos e outras súplicas, Dom Manoel João Francisco, Bispo de Chapecó – então Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB – assim manifesta a antiguidade do ministério exorcístico: “Inspirada na prática e mandamento de seu Fundador, a Igreja, desde os primórdios, fez orações em favor dos fiéis, visando protegê-los contra a influência do maligno e subtraí-los de seu domínio”1. Assim narram os Atos dos Apóstolos e o testemunho dos primeiros cristãos, como São Justino2, que relata os exorcismos realizados por cristãos em pessoas que, inutilmente, já haviam se servido de mil outros recursos para libertar-se do poder das trevas e que, com a simples invocação do nome de Jesus, viram-se libertadas; ou Santo Irineu3, que atesta terem se convertido muitos pagãos ao Cristianismo por terem sido libertados dos demônios pelos cristão; ou ainda Lactâncio4, que narra o desespero que os espíritos maus demonstravam diante dos exorcistas cristãos e, sobretudo, do nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Esse costume, porém – ao contrário do que muitos podem pensar – não é obsoleto e fora de contexto. Também nos dias atuais a Santa Mãe Igreja se desvela em libertar aqueles seus filhos vexados pelo poder das trevas e prova disto são os diversos livros litúrgicos promulgados com esse fim, sendo o mais recente do ano de 2013. Embora seja responsabilidade especial dos clérigos, é próprio a todo batizado esse poder de expulsar os demônios em nome de Jesus5, pois Ele mesmo assim caracterizou os que nele cressem e fossem batizados: “Expulsarão os demônios em meu nome” (Mc 16,17).
Segundo a normas do vigente Ritual Romano e as precisões de diversos autores – como Santo Afonso, São Tomás, Santo Agostinho, Cardeal Medina Estévez6, entre outros – a Doutrina Católica chega a distinguir cinco gêneros de atos exorcísticos: 1) Solenes: cujas fórmulas podem se encontrar no Ritual. 2) Simples: atos litúrgicos exorcísticos nos rituais do Batismo. 3) Privados: qualquer outro modo de fazer cessar a influência diabólica, seja por preces aos intercessores celestes ou por ordens ao demônio. 4) Privados “secreto modo”: oração exorcística discreta, recomendada para situações frequentes no exercício do ministério sacerdotal, como ao notar dificuldades de um penitente expressar-se no confessionário, provavelmente provocadas pelo maligno. 5) Extraordinários “virtute charismatis”: atos exorcísticos que algumas pessoas operam por especial graça de Deus (gratis data), de efeitos comumente imediatos, realizados com poucas orações ou gestos exorcísticos. De tudo isso, pode o leitor facilmente constatar como a prática de exorcismos não é só comum na história da Igreja, mas favorecida por esta Sagrada Instituição. Se nos dias atuais encontram-se pessoas que desaprovam esse costume milenar, é de se perguntar o que os motiva a isso. Descrença na existência dos anjos decaídos? Ou desejo de que eles não sejam expulsos da face da terra? Em qualquer caso, que eles se ponham a pensar contra quem eles se entram em luta, pois todos aqueles – homens e mulheres, clérigos ou leigos de todas as épocas – que desejaram seguir o exemplo do Divino Mestre curando os oprimidos pelo maligno, nada mais fizeram do que passar pela Terra fazendo o bem, porque Deus estava com eles (cf. At 10, 38).
Aproveito esta ocasião para lhe fazer um convite: visite, subscreva e compartilhe nosso canal do Youtube: Canal Arautos sem Segredos
1 FRANCISCO, Manoel João. Apresentação. In: RITUAL DE EXORCISMOS E OUTRAS SÚPLICAS, Ritual Romano. Tradução portuguesa para o Brasil da edição típica. São Paulo: Paulus, 2005, p.6.
2 Cf. SÃO JUSTINO. Apologie pour les chrétiens. L.II, c.5, n.6: SC 517, 335.
3 Cf. SANTO IRINEU DE LYON. Contra as heresias. L.II, c.32, n.4. 2.ed. São Paulo: Paulus, 1995, p.235.
4 Cf. LACTÂNCIO. Instituciones divinas. Libros I-III. L.II, c.15. Madrid: Gredos, 1990, p.234.
5 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q.90, a.2
6 Cf. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Theologia Moralis. Romæ: Typis Polyglottis Vaticanis, t.I, 1905; SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., I, q.108, a.8, ad 2; SANTO AGOSTINHO. De cura pro mortuis gerenda, c.XVII, n.21. In: Obras Completas. Madrid: BAC, 1995, v.XL; MEDINA ESTÉVEZ, Jorge Arturo. Presentazione del Rito degli esorcismi, 26/1/1999. Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ ccdds/documents/rc_con_ccdds_doc_1999-01- 6_il-rito-degli-esorcismi_it.html>. Acesso em 31 jul. 2018.